Revista alentejo

» A saúde da saúde
A Saúde será, eventualmente, a área que maiores ganhos quantitativos e, principalmente, qualitativos evidenciou, desde o 25 de Abril de 1974.
Na realidade, quando estudamos os indicadores utilizados para avaliar o grau de qualidade dos serviços de saúde prestados às populações (mortalidade e morbilidade materna, perinatal e infantil, esperança de vida à nascença, taxas de mortalidade devido a patologias diversas, entre outros), facilmente verificaremos o enorme progresso que Portugal registou nesta área tão importante para uma cidadania com qualidade, nas últimas quatro décadas.
Portugal, muito devido à criação e acção do seu Serviço Nacional de Saúde (SNS), é, na actualidade, um dos países com melhores indicadores na área da saúde, facto que convém registar e valorizar e que nos deve motivar para criar as condições necessárias para que o SNS continue a melhorar a saúde dos portugueses, através de políticas adequadas aos novos desafios que a estrutura demográfica e as novas patologias hoje representam.
Na actualidade, três enormes desafios se colocam perante os sistemas de saúde da generalidade dos países: a SIDA, a toxicodependência e o envelhecimento da sua população. A estas dimensões juntar-se-ão outras de incidência mais localizada, com contornos que decorrerão das especificidades demográficas da população ou estruturais dos próprios serviços de saúde.
No nosso país, em particular nas regiões de maior interioridade, com particular índice de envelhecimento e com menor poder de compra, como é o caso do Alentejo, as questões relacionadas com o acesso aos cuidados de saúde e aos medicamentos, a assistência às famílias mais frágeis – com a necessária e fundamental articulação entre os serviços de saúde, educação e de apoio social – e o alargamento de uma rede territorialmente homogénea de cuidados continuados constituem-se, em minha opinião, os momentos seguintes de uma construção de cidadania que começou, de forma mais sustentada e equitativa, com a instauração da Democracia.
Certamente que todos gostaríamos de ter melhores hospitais, mais e melhores centros de saúde, mais médicos e enfermeiros e ausência de listas de espera. Estas aspirações são absolutamente justas e razoáveis. No entanto, devemos também ter a percepção do nosso passado recente e da evolução notável que conseguimos concretizar em período tão curto.
Um cidadão português (ou um habitante do Alentejo) tem, na actualidade, um Sistema Nacional de Saúde que lhe garante qualidade no acesso e nos serviços que lhes são disponibilizados. Na quase generalidade do território, ocorreu uma autêntica revolução no que respeita às infra-estruturas existentes (físicas, técnicas, tecnológicas e humanas), nos planos de prevenção, na informação disponível, nos programas de apoio social, nos esquemas de acesso aos medicamentos e aos meios de diagnóstico.
A saúde da Saúde está melhor do que há algumas décadas atrás e esse tem sido o resultado de políticas centrais, da participação de muitas autarquias que, entretanto, assumiram parte das responsabilidades do Estado e do aparecimento e reforço do sector privado que, em muitas áreas, contratualizou com o Estado a prestação de serviços, no âmbito do serviço público.
No entanto, há, obviamente, aspectos a melhorar, particularmente na região alentejana: o acesso aos cuidados de saúde primários – que conheceu um avanço notável com a criação das Unidades de Saúde Familiar – carece de melhorias em alguns pontos do território; as listas de espera continuam persistentes em alguns casos e necessitam de um esforço redobrado para se eliminarem; as políticas de promoção da natalidade, promovidas pelo actual governo e que há muito eram reclamadas, deverão ser rapidamente concretizadas; a rede de cuidados continuados – que não existia há apenas três anos – deverá continuar a merecer intenso investimento; a Intervenção Precoce junto de crianças com deficit de desenvolvimento e respectivas famílias deverá ser estimulada e alargada.
Penso que, apesar das necessidades e de alguns constrangimentos, o nosso sistema público de saúde, nomeadamente no Alentejo, caminha no sentido correcto e deverá continuar a ser gerido, de forma racional e sustentada, para que não percamos nenhuma das conquistas já alcançadas nas últimas décadas e possamos igualar, num futuro próximo, os melhores índices existentes, a nível internacional.
(edição de Setembro de 2008) |