Diário do Sul

» Sismos…

…na China, celebrava-se a salvação de uma vida, que se acabava de resgatar à tragédia; na África do Sul, celebrava-se a morte de um pobre homem que apenas queria sobreviver.

Num dos últimos dias, quando assistia a um telejornal, não pude deixar de me impressionar com as imagens que me chegavam dos quatro cantos do mundo.

Da China, vinham imagens das consequências do sismo que aí ocorreu. Uma tragédia enorme, na qual, a Natureza desfez, em poucos segundos, dezenas de milhares de vidas e colocou milhões de pessoas num sofrimento terrível, em consequência do facto de terem ficado sem as suas casas, os seus haveres, os seus familiares e as suas terras. No entanto, no meio desta tragédia, havia imagens de enorme solidariedade que retratavam o heroísmo de uns a tentarem salvarem outros, com risco das suas próprias vidas. No meio de todo este cenário, a salvação de uma única vida era celebrada com uma enorme alegria.

Do outro lado do mundo, da África do Sul, chegavam imagens de outro sismo: o da xenofobia e o da intolerância humana. De facto, as imagens africanas mostravam-nos homens a assassinarem um semelhante, numa crueldade sem limites. Pedras arremessadas, picaretas e martelos bateram e voltaram a bater num pobre corpo inanimado até que a morte o libertou daquela barbárie. Aquele homem, que jazia num mar de sangue, acabava de pagar, com a sua vida, o crime de procurar, num país que não era o seu, o pão para sobreviver. No meio desta desumanidade, a morte foi celebrada com uma enorme alegria daqueles que a haviam provocado.

Que mundo tão contraditório: na China, celebrava-se a salvação de uma vida que se acabava de resgatar à tragédia; na África do Sul, celebrava-se a morte de um pobre homem que apenas queria sobreviver.

26/05/2008