» A página A4…
A leitura, calma, pensada e debatida está em extinção e, com isso, estamos a perder parte importante do processo de construção do conhecimento humano.
O líder do Grupo Parlamentar do Partido Social Democrata, no decurso do Debate sobre o Estado da Nação, solicitou – quase que exigiu – ao Primeiro-Ministro que este lhe disponibilizasse toda a informação financeira relativa aos investimentos públicos (TGV, novo Aeroporto Internacional de Lisboa, Plano Nacional de Barragens, Plano Rodoviário, etc.). A solicitação tinha, no entanto, uma circunstância inédita: toda esta informação deveria ser inscrita numa simples página A4. Uma simples página A4!
Esta curiosidade parlamentar não deixa, no entanto, de deixar transparecer uma realidade bem mais preocupante que o combate político na Assembleia da República. Na realidade, cada vez mais se evidencia uma particular aversão de muitos portugueses para com a leitura demorada, atenta e reflectida. De facto, como o exemplo atrás demonstra, a leitura de uma página A4 parece ser o limite máximo que o cidadão comum aguenta.
Hoje, durante a frequência escolar, muitos estudantes, em vez de lerem um clássico, optam por ler os respectivos resumos; muitos de nós, no dia a dia, em vez de lermos um jornal com a calma e a reflexão necessárias para se pensarem as notícias, optamos, muitas vezes, por ler apenas os títulos; muitos prescindiram mesmo de ler e ficam-se apenas pelo pensamento e comentário dos comentadores televisivos ou radiofónicos.
A leitura, calma, pensada e debatida está em extinção e, com isso, estamos a perder parte importante do processo de construção do conhecimento humano.
Quando a informação de uma página A4 é suficiente para se decidir o futuro de um país, está quase tudo dito. A não ser que, nessa página A4, esteja escrito o seguinte: o leitor desta página deverá ler, na totalidade, toda a informação necessária para decidir com conhecimento de causa.
14/07/2008
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