» Açordas: quanto mais simples, melhor…
Foi, pois, com o tempero da dificuldade e com o sabor da criatividade que as açordas alentejanas se foram aprimorando e trouxeram até aos nossos dias os sabores mais genuínos e puros do Alentejo.
Nos próximos dias 7, 8 e 9 de Março, ocorrerá, em Portel, a segunda edição do Congresso das Açordas, numa meritória organização da autarquia portelense. Nesses três dias, dedicados à culinária alentejana, serão debatidas e, certamente, comidas as questões relacionadas com este inigualável património do Alentejo.
Sejam de alho, de tomate, de alface, de poejo, com ou sem carne, acompanhadas ou não de peixe do rio ou da ribeira, as açordas são o sedimento mais precioso de uma forma de vida que sempre conseguiu aproveitar, ao máximo, o mínimo que a natureza alentejana sempre disponibilizou aos alentejanos.
Assumindo o pão, como alimento central, as açordas sempre convocaram para o prato do alentejano os produtos silvestres, os legumes da horta, a carne da criação, o peixe dos cursos de água das redondezas ou as ervas aromáticas dos campos. Só o sal não era produzido na courela da família.
Foi, pois, com o tempero da dificuldade e o sabor da criatividade que as açordas alentejanas se foram aprimorando e trouxeram, até aos nossos dias, os sabores mais genuínos e puros do Alentejo. São estes sabores que hoje são procurados por milhares e milhares de pessoas que, todos os fins-de-semana, chegam ao Alentejo à procura das melhores açordas.
Portel faz bem em patrimonializar este importante fragmento da cultura alentejana. Ao fazê-lo, realça e valoriza, também, a cultura local do seu território e das suas populações.
Esperemos que os novos gostos e a pressão de outras culturas, com outros e bem diferentes sabores, não coloquem em perigo esta nossa gastronomia.
Em que parte do mundo nós conseguimos ter o prazer de saborear uma boa sopa de tomate, guarnecida com um cheirinho de bacalhau e um ovo daqueles que acabaram de ser apanhados na capoeira, acompanhada com uma boa carne de porco frita, regada com um bom tinto alentejano e terminado com uma celestial seriacaia com ameixa de Elvas? Tudo isto biológico, como agora fica bem dizer?
01/03/2008
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